A VERDADE EXPLICADA:
Era quase meia-noite. Estavam chegando a uma casa humilde, pequena, no subúrbio de uma cidade russa. Àquela hora da noite o bairro inteiro parecia dormir. As ruas desertas, escuras, silenciosas, escondiam em suas sombras os dois homens, um deles morador daquela região, o outro, um turista europeu.
Entraram na casa e qual não foi a surpresa do turista ao encontrar ali um grupo de 15 a 20 pessoas reunidas, como que aguardando-os. Os homens estavam de pé, ao redor do cômodo; as mulheres ocupavam as poucas cadeiras que havia e a cama que fazia as vezes de banco. Algumas crianças sentaram-se no chão, perto do turista europeu, que na verdade era um missionário clandestino. Sendo fluente no russo, ele conseguira permissão para viajar pelo país e lograra êxito em contatar membros da igreja subterrânea.
Após cumprimentar os presentes, o missionário abriu sua Bíblia, leu alguns versículos e começou a expor a Palavra de Deus. Todos o escutavam com atenção, mas seus olhos não estavam no missionário, e, sim, na Bíblia que ele trazia nas mãos. Algumas daquelas pessoas fazia anos não viam uma Bíblia completa. Aquele livro era para eles uma preciosidade rara, um verdadeiro tesouro.
Concluída a pregação, o missionário abriu sua maleta e acrescentou:
--"Trago também saudações muito 'especiais' dos vossos irmãos em Cristo de outros países". E em seguida retirou da maleta algumas Bíblias de bolso impressas em russo.
Mais tarde, falando de suas experiências nessa viagem, o missionário confessou: "Jamais conseguirei descrever a surpresa e a alegria incontida daqueles irmãos quando viram o presente que lhes trouxera. Lágrimas de gratidão lhes vieram aos olhos ao sentirem que seis irmãos ao redor do mundo os amavam em JESUS e estavam-se lembrando deles em oração".
Depois de distribuídas as bíblias, uma senhora levantou-se e foi falar com o missionário:
--Irmão", começou ela timidamente, "por acaso não tem uma Bíblia para o meu povo também?"
"Não de para entender...", continuou o missionário. "Eu acabei de distribuir as bíblias... a que povo ela se referia? Não seriam os presentes ali 'seu povo'?" Percebendo minha confusão, o irmão que me levara à reunião aproximou-se e cochichou ao meu ouvido: "Ela está hospedada aqui nesta casa. Chegou há alguns dias, vinda da Sibéria, à procura de uma Bíblia para levar o seu povo".
Da Sibéria!!! Eu não podia acreditar. Quer dizer que aquela mulher tinha atravessado o país -- dez mil quilômetros de distância -- para conseguir uma Bíblia?! Não era possível! Com certeza eu não entendera direito. Mas meu companheiro confirmou: "Sim irmão, ela viajou essa distância toda. Na região onde mora, os crentes tem apenas partes da Bíblia, copiadas à mão. Faltam-lhes muitos capítulos e até livros inteiros".
Os crentes da região haviam ajuntado seus parcos recursos e enviado aquela mulher numa viagem de busca. Ela precisava achar uma Bíblia, uma só, mas completa, da qual todos fariam cópias à mão. Ela iniciara a viagem havia muitos dias. Procurara outros crentes, fora às igrejas oficiais controladas pelo Estado e em nenhum lugar pudera encontrar uma Bíblia disponível. Sua busca desesperada levara-a, finalmente, àquela casa de subúrbio, no extremo oposto do país. Seu tempo e dinheiro estavam no fim. Teria que voltar em breve... e de mãos vazias. Sua missão fracassara. Mas, na noite anterior, ela havia orado insistentemente: "Senhor, mostra-me para onde ir e o que devo fazer". E na noite seguinte lá estava ela na reunião, quando o missionário chegou.
Ouvindo o comovente relato, o missionário abriu mais uma vez sua maleta e dela tirou, não uma, mas dez bíblias. A mulher ficou olhando fixamente para os livros enquanto o missionário os passou, um a um, às suas mãos. Por alguns momentos ela permaneceu assim, estática, como se não acreditasse no que via. Lentamente, as lágrimas começaram a rolar.
Deus não havia Se esquecido dela, nem do seu povo. Ele a tinha guiado milhares de quilômetros até aquela casa distante, para que estivesse ali exatamente naquela ocasião. Duas pessoas -- o missionário e a crente siberiana -- sem nada saberem um do outro haviam encetado viagem para se encontrarem, naquele dia, à meia-noite, naquele lugar. Deus os guiara até ali.
No dia seguinte, ela iniciou o longo caminho de regresso, mas não de mãos vazias. Levava um sorriso nos lábios e um embrulho de valor inestimável: as dez bíblias para o seu povo da Sibéria.
Como são maravilhosos os caminhos de Deus!
Fonte: MENSAGEM DA CRUZ nº 79/Jan.1988