A VERDADE:
"...se, pois, já morremos com ele, também com ele viveremos; se perseveramos, com ele também reinaremos... se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados". (II Tm 2.11,12; Rm 8.17)
A VERDADE EXPLICADA:
Em qualquer época do ano podemos nos regozijar pelo dom da redenção e pela obra que JESUS realizou por nós. Entretanto, na semana santa, quando ouvimos mais acerca da paixão de Cristo e Sua ressurreição, conforme registrado nos evangelhos, os fatos que conquistaram a nossa salvação tornam-se tão reais para nós como se fôssemos testemunhas oculares de tudo o que ocorreu na Palestina, nos dias de Pilatos. Pela fé, nos fazemos presentes ali em espírito, embora ausentes no corpo, pois a fé verdadeira tem o poder de transcender o passado e o futuro e de absorver a verdade no presente. Para nós, não existe o intervalo de tempo. Os mesmos acontecimentos que comoveram o coração dos discípulos de JESUS no passado, comovem o nosso hoje, pois também O vemos traído, preso, acusado falsamente, ridicularizado, açoitado, condenado e crucificado.
Todavia isso não quer dizer que compartilhamos a desilusão e tristeza dos discípulos, nem o seu pânico diante da turba que gritava. Sabemos que, embora momentaneamente abalados, posteriormente eles prosseguiram na caminhada, devido a uma fé invencível na ressurreição e ascensão do Senhor. Quando revivemos o mistério de Sua paixão, nunca perdemos de vista a obra completa de nossa redenção. Contudo só quando cremos no senhorio de JESUS e nos sujeitamos completamente a Ele é que começamos a compreender plenamente sua promessa:
-- "...quando vier aquele Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade". (Jo16.13)
Não basta conhecermos a sequência dos fatos. Precisamos do dom do discernimento a fim de sabermos por que tudo aquilo ocorreu, e como o grandioso plano de Deus foi consumado através de Seus inimigos.
Cremos que JESUS era Deus e homem, não apenas o Verbo que se fez carne, mas também um ser humano. Sendo Deus Onipotente, Ele não poderia sofrer; mas como homem e humilde, achava-Se sujeito à morte como todos nós. Em Sua paixão, passando pelos sofrimentos mais cruéis, Ele comprovou a autenticidade de Sua natureza humana. Sem qualquer obrigação de suportar essas coisas, Ele o fez por amor e compaixão por nós:
-- "...enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne..." (Rm 8.3).
Quando a escolta veio prendê-Lo, Ele precisou apenas abrir a boca e dizer tranquilamente..."...sou eu...", para eles recuarem e caírem por terra (Jo 18.6). Esse incidente prova que o poder de JESUS não diminuíra. Contudo, se Ele não tivesse permitido Sua prisão, nenhum de nós seria salvo. Cristo viera ao mundo para destruir a morte e o autor dela através de Sua própria morte. Sendo o verdadeiro Cordeiro, cuja morte há muito havia sido predita, Ele se ofereceu em sacrifício a Deus para a redenção do mundo.
De fato, o mundo foi reconciliado com Deus por meio de JESUS. Deus revestiu-Se da natureza humana a fim de restaurá-la à imagem do seu Criador. Isso implicava conhecer nossas fraquezas e dores, vivenciando-as. No jardim do Getsêmani, JESUS teve medo; Seu suor transformou-se em gotas de sangue, mas Ele não tentou esconder Seu sentimento. Tendo experimentado as profundezas do temor humano JESUS foi capaz de revestir nossas fraquezas com a plenitude do poder divino. Era como se Ele fosse um rido comerciante celeste. Veio ao mundo para nos dar Seus próprios bens em troca do que tínhamos a oferecer: honra por injúria, salvação pela dor, a vida pela morte. Milhares de anjos poderiam ter vindo socorrê-Lo, aniquilando Seus inimigos, mas em vez de usar Seu poder divino, Ele preferiu sofrer nossos temores.
Sem resistir, JESUS perseverou. Contendo as legiões de anjos, Ele bebeu o cálice da dor e da morte. Através de Sua persistência, Ele transformou Sua crucificação numa vitória triunfante. Derrotou a mentira e subjugou os poderes das trevas, dando ao mundo uma nova fonte de vida. O fato de sermos descendentes de Adão não significava mais a condenação à morte eterna. Recebemos o direito de ter o perdão de Deus e de nos gloriar no poder do nosso Salvador.
Quando fitamos a cruz de Cristo com os olhos da fé e entendemos que ela alcançou seus objetivos, compreendemos por que a Igreja celebra a morte de JESUS com tamanha seriedade. Através da cruz, Cristo quebrou as barreiras, curou as dissensões no coração do homem e reconciliou o mundo com Deus.
Contudo, se não estivermos seguros de que o nosso próprio corpo foi pendurado na cruz, e que em JESUS, que é "as primícias", toda a raça humana foi trazida à vida, estaremos celebrando a Páscoa em vão. Nosso corpo foi sepultado, ressuscitou no terceiro dia e subiu aos céus, estando à destra de Deus. O único objetivo de JESUS, em todos os Seus atos e naquilo que padeceu, era a nossa salvação. Seu propósito era transmitir aos membros do Seu corpo o poder que pertence a Ele, o Cabeça. Toda pessoa que recebe JESUS, o Verbo, como seu Salvador e Senhor, e é nascido do mesmo Espírito que levou Maria a concebê-Lo, recebe uma parte de Sua natureza divina. Contudo, quando observamos esse homem padecendo fome e fadiga, sofrimentos e tristezas, chegando até a chorar, reconhecemos n'Ele nossa própria natureza humana clamando por cura e perdão.
Para nós, a Páscoa não pode ser somente uma celebração superficial. Temos de experimentá-la em todos os níveis, pois participar do mistério pascal é ser contado entre aqueles que compartilham a paixão de Cristo. Na verdade, só podemos honrar o Senhor que sofreu, morreu e ressuscitou se tivermos parte com Ele. A vida de JESUS agora é a nossa, e isso implica tomar a cruz a fim de segui-Lo. A cruz é a nossa glória. Através dela, o mundo está crucificado para nós, e nós para o mundo (Gl 6.14). Foi à cruz que Cristo nos levou. E é na cruz, onde a humanidade foi salva, que precisamos nos encontrar. A paixão de Cristo não está concluída. Continuará até o final dos tempos. Da mesma forma que, quando um cristão é honrado JESUS é glorificado, ou quando damos de comer ou vestir aos pobres é a JESUS que damos, assim também quando sofremos por fazer o bem é JESUS Quem sofre.
O apóstolo Paulo afirma que todos quanto querem viver piedosamente em Cristo JESUS serão perseguidos (II Tm 3.12). Os únicos que conseguem ter paz com o mundo de ambição e irreligiosidade são os que amam tais coisas, pois não pode haver paz nem harmonia entre o bem e o mal, entre a mentira e a verdade, as trevas e a luz. Os espíritos malignos estão constantemente atacando os crentes, seja através de artifícios sutis ou de batalhas espirituais. Obviamente eles não podem ir além daquilo que Deus permite, mas tem tanta habilidade para enganar os homens e convencê-los de que podem fazer o que bem entenderem com suas vítimas, que muitos, iludidos, ficam com medo de cair em suas mãos.
Contudo um relacionamento "amistoso" com os espíritos malignos é mais perigoso do que a hostilidade deles. Seus favores nos prejudicam mais que os males que possam infligir-nos. JESUS é o Senhor e o único cujo descontentamento nós, cristãos, devemos temer. Quem já crucificou seus desejos pecaminosos na cruz, já lançou aos pés do Salvador qualquer ressentimento ou amargura que estivesse abrigando no coração, quem aprendeu a perdoar a seus inimigos e a preferir a vontade de Deus à sua própria, quem recusou dar lugar aos impulsos de sua natureza pecaminosa e agora anda nos caminhos do Espírito Santo, não precisa temer o maligno nem tem de tentar apaziguá-lo.
Satanás tenta convencer-nos de que as promessas do Senhor não são verdadeiras, e de que o chamado de Deus não nos diz respeito. A verdade, porém, é que ele sempre foi um mentiroso. Todavia JESUS nos libertou de suas acusações de uma vez por todas. Desde que entregamos nossa vida a Deus, Ele nos concedeu o Seu Espírito bem como o poder para resistirmos a todas as provações que possam nos sobrevir, e mais o gozo que encontramos quando cremos em Sua Palavra:
-- "...se já morremos com ele, também viveremos com ele; se perseverarmos, também com ele reinaremos... se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados". (II Tm 2.11,12; Rm 8.17).
Essa promessa não se restringe aos mártires que suportam terríveis sofrimentos por amor a Cristo. Todo o povo de Deus foi crucificado com JESUS e será glorificado com Ele. Certamente aqueles que sofreram perseguições com fé heroica e amor ao Senhor brilharão mais do que qualquer um. Contudo a glória é prometida a todos os servos de Deus que morreram para seus instintos egoístas e assim derrotaram a cobiça, o orgulho e o erro. Todos os que amam o Senhor JESUS e tentam viver para Ele, sem dúvida alguma, sentirão a influência do velho Adão e experimentarão os ataques do maligno.
Agora mesmo Cristo está vencendo o mundo. Quando o Seu povo resiste às tentações, é Ele Quem triunfa; o poder e a vitória pertencem a Ele. Para nós, JESUS Cristo na cruz não é nem escândalo, como era para os judeus, nem loucura, como era para os gregos. Ele é o poder e a sabedoria de Deus. Somos os herdeiros espirituais de Abraão, não através da sua descendência natural, mas do Espírito de liberdade no qual nascemos de novo. Fomos libertos da escravidão de Faraó pela mão poderosa e o braço estendido do único Senhor que a Si mesmo Se entregou em sacrifício por nós como o verdadeiro Cordeiro imaculado.
Louvado seja Deus por Sua maravilhosa vitória, pelo grande sacrifício que nos trouxe a salvação! Busquemos diligentemente ser conformados à imagem do Senhor, que Se igualou a nós em nossa baixeza. Acheguemo-nos Àquele que transformou nosso corpo desprezível em Seu próprio corpo glorificado. Sigamos os Seus passos humildes e perseverantes, a fim de termos parte em Sua ressurreição. Pela grande misericórdia do Senhor, fomos curados e libertos. Precisamos ser zelosos com essa cura e libertação, pois não foi por nossos próprios méritos que as alcançamos. Elas são uma dádiva gratuita de Deus. As Escrituras nos advertem a que não as tratemos com negligência. O Senhor nos salvou, mas temos que nos manter firmes, andando no caminho que Ele traçou para nós.
O próprio JESUS é o Caminho, conforme afirmou (Jo 14.6). Temos acesso a Deus através da resignação e submissão do Filho. Nessa caminhada nos defrontaremos com a fadiga e o calor, o medo e a angústia. O inimigo colocará armadilhas à nossa frente. Os incrédulos tentarão impedir-nos. Sofreremos zombarias, ameaças e insultos. O Senhor JESUS suportou tudo isso. Ele passou por essas armadilhas no nosso corpo frágil e vulnerável rumo à glória. Pedro, o apóstolo, diz:
-- "...Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas..." (I Pe 2.21).
Por meio de todos esses sofrimentos, JESUS foi vitorioso, e a lição que nos deixou é esta: não devemos tentar evitar as provações, mas superá-las no poder do Seu Espírito.
Mensagem da Cruz
(Mar.Abr./1998)