A VERDADE:
Deus revelou-Se ao homem primeiramente no “espelho” do Universo, e no tribunal de sua consciência, depois através da Palavra, inspirada aos patriarcas e profetas, e finalmente no Seu Filho JESUS Cristo: “Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo...” (Hb 1.1,2).
A VERDADE EXPLICADA:
Buscando a face do Invisível
Como é possível, nós, seres humanos, limitados pela matéria, conhecermos a Deus, que é ilimitado e Espírito puro? Poderemos sondá-Lo, chegar ao mais profundo de Sua Onipotência? Ele é mais alto que os céus, e mais profundo que o maior de todos os abismos. Sua grandeza é humanamente insondável. Deus é superior ao mar e à Terra. “Porventura desvendarás os arcanos de Deus ou penetrarás até à perfeição do Todo-Poderoso?” perguntou o patriarca Jó. “Como as alturas dos céus é a sua sabedoria; que poderás fazer? Mais profunda é ela do que o abismo; que poderás saber? A sua medida é mais longa do que a terra, e mais larga do que o mar...” (Jó 11.7-9).
Nossa capacidade de conhecer as coisas reside nos órgãos sensoriais do nosso corpo. Os cinco sentidos – olfato, paladar, tato, visão e audição – que nos foram dados por Deus, nos permitem entrar em contato com a natureza; porém, eles foram ajustados para nos fornecer informações sobre o mundo visível, palpável – o mundo material -- ,mas são incapazes de nos colocar em contato direto com o invisível, o impalpável – o mundo espiritual.
Todavia, apesar de não nos ser possível ter uma visão imediata e direta de Deus, podemos chegar, através desses mesmos sentidos, ao reconhecimento de Sua existência através do Seu reflexo no espelho da Natureza – as obras de Suas mãos. Só desta forma nos é possível, humanamente falando, obtermos o conhecimento de Deus. Isto, de acordo com os nossos próprios esforços e capacidade natural. Não estamos levando em conta aqui o conhecimento e experiências que podemos obter no aspecto espiritual.
Conhecimento natural e conhecimento revelado
Porém, devemos distinguir aqui os dois tipos de conhecimento que podemos obter de Deus: o natural e o revelado. O conhecimento natural de Deus é aquele que obtemos através daquilo que nos diferencia dos animais irracionais: nossa capacidade de pensar, ou seja – nossa razão. Portanto, todo homem tem à sua disposição as provas da existência de Deus, refletidas no espelho de tudo o que Deus criou no Universo. É por isso que o ateu será indesculpável diante desses testemunhos, é o que diz Paulo na carta aos Romanos (1.20).
Todavia, sabendo Deus que os poderes da razão humana só eram capazes de fornecer ao homem um conhecimento natural acerca de Sua existência, e que esse conhecimento era insuficiente para desvendar à humanidade a necessidade de que todos se arrependessem e fossem salvos dos seus pecados, Deus Se revelou a nós através de Sua Palavra e do Filho, JESUS Cristo. Este é o conhecimento revelado. Como não nos era possível obter um conhecimento sobrenatural de Deus do mesmo modo como podemos obter o conhecimento natural, alguém teve que nos ajudar a chegar a esse conhecimento. Esse alguém é JESUS. Só aqueles que foram alcançados pela graça através da fé em JESUS Cristo é que poderão obter esse conhecimento sobrenatural (ou revelado) de Deus. Esta verdade constitui-se em um dos pilares do Evangelho de João: “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou...” (Jo 1.18).
Cristo, a plenitude da revelação de Deus
Deus revelou-Se ao homem primeiramente no “espelho” do Universo, e no tribunal de sua consciência, depois através da Palavra, inspirada aos patriarcas e profetas, e finalmente no Seu Filho JESUS Cristo: “Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo...” (Hb 1.1,2).
Assim, pois, à medida que passamos a tomar parte do infinito conhecimento que Cristo tem de Deus, já não contemplamos a Deus com os olhos puramente humanos, mas com os olhos humano-divinos de Cristo, e deste modo poderemos compreender em profundidade e glória aquilo que nos seria impossível conhecer através dos limitados poderes da nossa razão.
A fé torna possível à nossa mente a obtenção de um conhecimento sobrenatural (que está acima do natural) dos imensos mistérios de Deus. “O conceito cristão de revelação é este: a verdade que os homens não podem enxergar por si, sem o auxílio divino é apresentada em Cristo através da operação da graça divina...”, escreve Allan Richardson. Pela fé em JESUS Cristo é que descobrimos a face de Deus.
O fato de Deus nos ter falado em linguagem de homens através do Verbo mudou completamente as perspectivas de toda a busca da divindade. Hoje, os que aceitamos JESUS Cristo como Senhor e Salvador, caminhamos em direção a Deus guiados pelo Filho, que é a imagem do Pai e Sua doutrina, Sua vida e Seu Espírito, que é Santo.
Existe harmonia entre a razão e a fé?
Porém, devemos atentar para o fato de haver pessoas que afirmam ser impossível obter-se sequer uma prova da existência de Deus através da razão. Crê-se na existência de Deus, na Bíblia como Sua Palavra e em JESUS Cristo como o Salvador da humanidade, tão somente fazendo-se uso da fé, e pronto. Não devemos procurar saber se há razões para essa fé: elas não existem, afirmam. Tais pessoas são conhecidas como fideístas. A sua fé é cega. Acreditam que, quando se trata de fé, a razão (ou seja, a capacidade da mente humana raciocinar) não deve tomar parte. Por isso eles fecham os olhos e esforçam-se para continuar crendo, apesar de imaginarem que qualquer avaliação dos porquês de sua crença abalaria os fundamentos de sua fé.
Tais pessoas estão perigosamente enganadas. “Eu creio, mas desejo compreender...” dizia o teólogo Anselmo. E este deve ser o lema de todo crente que deseja estar em condições de cumprir o que nos aconselhou Pedro: “...antes, santificai a Cristo como Senhor, em vossos corações, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (I Pe 3.15). Em nossa trajetória em busca do conhecimento dos mistérios de Deus, não existe conflito entre a fé e a razão. Há crentes que desconhecem o quanto o uso da razão é importante em nossos esforços para penetrarmos os mistérios relacionados com a nossa salvação. É certo que é Deus Quem revela esses mistérios. Porém, Ele nos fala tanto ao nosso coração como à nossa mente, para nos levar à certeza de que nossa fé está fundamentada em bases seguras. Ela não é cega, nem irracional.
Diante disto, afirmamos convictamente que a Bíblia sairá triunfante como um livro verdadeiro, como Palavra da Verdade, em qualquer análise a que for submetida. Nossa fé na Bíblia é uma fé possível de ser provada. Assim, como existem provas racionais da existência de Deus, existem também inúmeras provas de que a Bíblia é realmente a Palavra da Verdade, e está acima de todos os livros existentes no mundo. Porém, os crentes que desconhecem esse fato preferem fechar os olhos e crer. Eles temem que, se os abrirem, ou seja, se sua fé for submetida ao teste da razão, eles se tornarão incrédulos. O teólogo inglês Richard Hooker fez o seguinte comentário sobre esses crentes: “Há um bom número de gente que pensa não poder admirar, como é preciso, o poder e a autoridade da Palavra de Deus, caso nas coisas divinas se possa atribuir qualquer força à razão humana. Por esse motivo nunca usam de boa vontade a razão, temendo levar a Bíblia a descrédito”. Avisamos aqui a essas pessoas que elas podem ficar tranquilas: a Bíblia não corre esse perigo.
A importância da fé e da razão para o conhecimento de Deus
Biblicamente, a fé “...é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem...” (Hb 11.1). Teologicamente, ela significa a aceitação de algo como verdade, que tem por fundamento o testemunho de Deus manifestado em um fato histórico. A fé gera a confiança. Ela não é produto de um sentimento cego. Não é algo que nada tenha a ver com provas, ou que a estas se oponha. A fé e a razão são os dois trilhos que nos conduzem à Verdade, a Deus, que é JESUS. Ele deixou bem claro que a nossa fé não pode ser cega: “...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (Jo 8.32). Portanto, nós alcançamos o conhecimento de Deus pelo caminho da fé e pelo caminho da razão ao mesmo tempo. Paulo fala em apresentarmos o nosso culto “racional” a Deus (Rm 12.1). É o que devemos fazer.
Anselmo costumava dizer que o modo correto de agirmos no que tange ao relacionamento da nossa inteligência com a fé “é crermos nas coisas profundas da religião cristã antes de nos pormos a discutir com a nossa razão”. O crente deve conscientizar-se de que a fé não se opõe à razão. Crer é o primeiro passo que se deve dar no caminho em busca do entendimento. Nós cremos para poder compreender. “A fé é o degrau da compreensão, e a compreensão é o premio da fé...”, disse um grande teólogo. “Se não crerdes, não entendereis...”, é o que está escrito em Isaías (7.9), na tradução Septuaginta da Bíblia (do hebraico para o grego). Portanto, a fé é o caminho para o entendimento, é a condição indispensável para penetrarmos na revelação de Deus. A ausência de fé torna impossível tanto agradarmos a Deus (Hb 11.6) como entendermos os mistérios de Deus.
Além do mais, a Palavra de Deus não pode penetrar em uma criatura irracional. Para que alguém creia, é necessário que seja capaz de pensar. “Pereça a ideia de que devemos acreditar não termos necessidade de buscar uma razão para aquilo que cremos, porque, de fato, já não poderíamos crer se não tivéssemos almas racionais...”, observou um grande estudioso das Escrituras.
Quanto à fé, ela não é fruto da simplicidade supersticiosa; não é também uma simples impressão do sentimento religioso. Ela é o ato mais elevado da razão que, reconhecendo a sua natureza finita e limitada no caminho da verdade, aceita aquilo que se encontra no terreno da revelação de Deus ao homem. A fé em JESUS Cristo é, portanto, o ponto mais alto a que pode chegar a razão humana. Só nela o imenso desejo de conhecimento que há dentro do ser humano encontra a suprema elevação e a plenitude de sua busca, o espírito humano o almejado, o coração a paz.
Em uma de suas cartas, um cristão da Igreja Primitiva declarou que os filósofos platônicos tinham pressentido a invisibilidade, imutabilidade e incorporabilidade de Deus, mas haviam desprezado o Caminho que conduz a Ele, porque lhes pareceu uma loucura a Cristo crucificado; por isso não puderam chegar a Deus, que é “...o santuário íntimo de repouso, tendo, porém, descoberto de longe a imensa claridade que Ele derrama”.
O homem deve unir-se a Deus
Portanto, a grande finalidade da vida humana é buscar a Deus, é temer o Seu nome e guardar os Seus mandamentos (Ec 12.13). Essa busca deve conduzir o homem para além do conhecimento puramente humano, e mergulhá-lo na contemplação do Altíssimo através da fé. O crente deve “buscar a face de Deus”, instruindo-se a respeito do Senhor e de Suas perfeições (Sl 105.4), sabendo, porém, que nenhum mortal terá de Deus um conhecimento direto, imediato pessoal. Só a alma glorificada nos altos céus O verá face a face. Unamos a nossa voz à de um antigo cristão, e façamos nossa esta sua belíssima súplica:
-Entra, Senhor, em nossos corações, e com o resplendor do Teu santo fogo ilumina qualquer escuridão que haja em nós. Como excelente guia que És, mostra-nos o Teu caminho neste escuro labirinto; corrige as imperfeições dos nossos sentidos... Mergulha-nos naquela fonte perenal de contentamento que sempre deleita e nunca farta, e a quem bebe de Suas vivas e frescas águas proporciona o sabor da verdadeira bem-aventurança. Tira de nossos olhos, com os raios de Tua luz, a névoa da nossa ignorância, a fim de que saibamos que as coisas que pensamos ser não são, e aquelas que não vemos, verdadeiramente são. Recolhe e recebe nossas almas, que a Ti se oferecem; abrasa-as naquela viva chama que consome toda material baixeza, de maneira que, em tudo separados do corpo, com um perpétuo e doce enlace juntem-se e se atem com a formosura divina; e nós, de nós mesmos separados, no Amado possamos nos transformar, e sendo levantados dessa baixa Terra, possamos ser admitidos no convívio dos anjos...
Autor: JEFFERSON MAGNO COSTA
(Fonte: MP. 1203/Jul.1987)