sexta-feira, 3 de março de 2023

EU, UM JONAS?

A VERDADE:

"Ninguém consegue fugir do Senhor. Aliás, o rei Davi sabia disso. Escreveu: “Para onde irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu tú aí estás; se fizer no Seol (no profundo abismo) a minha cama, eis que ali estás também...” (Sl 139.7,8). Portanto, foi Deus quem levou o mestre do navio até Jonas. Fez que o despertasse, não só do sono, mas, também, para que sentisse o drama da tripulação".


A VERDADE EXPLICADA:

Deus estava zangadíssimo com a maldade dos ninivitas. Porém, não queria puni-los sem que, primeiro, os avisasse. Falou, pois, a Jonas: “Levanta-te e vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela...” (Jn 1.2). Após ouvir a determinação divina, o profeta arrumou as malas e partiu para Jope. Ali, funcionava um porto muito interessante. Aliás, funciona. Apenas, a cidade mudou de nome; chama-se Yafa, junto da qual construíram a moderna Tel-Aviv.

Quando chegou a Jope, Jonas avistou um navio que ia para Társis. Não perdeu tempo! Comprou a passagem e enfurnou-se na embarcação. Ora, Társis, segundo pesquisa, era Tartessos, no sul da Espanha. Portanto, um lugar extremamente longe de Nínive, capital da Assíria, para onde deveria estar viajando. O navio zarpou, levando cargas e homens de todos os credos. E, Jonas, o único crente em Jeová, resolveu dormir um “sono profundo”. Na verdade, estava dormindo também espiritualmente. E, quem sabe, por causa da consciência, tomou, antes do embarque, um daqueles calmantes da Palestina. Porque, escreveu alguém, “...neste mundo, nada se compara à consciência do dever cumprido”. E o profeta tinha uma tarefa a cumprir, imposta pelo próprio Deus.

Um dever material, não cumprido, já nos faz doer a alma; imagine, pois, como estava Jonas, desobedecendo uma ordem expressa do céu. Deveria dizer aos ninivitas: “...ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida...” (Jn 3.4). Mas estava evitando. Por quê? Seria medo dos assírios? Não. Temia que, pregando-lhes, se arrependessem, obtendo assim o perdão divino e, por consequência, fossem preservados na terra os inimigos de Israel. Estes, os assírios, ou ninivitas, foram governados por reis os mais perversos, principalmente Assurbanipal. Era um sádico! Gostava de arrancar os olhos dos cativos, cortar-lhes as orelhas, os narizes, as mãos e os pés. Depois, insaciável, degolava as vítimas e, ironicamente, fazia pirâmides de suas cabeças. Aliás, não foi em vão que em Naum (3.1), Nínive ficou registrada como a “cidade sanguinária”.

Naquele cenário horrível, certamente figuravam pedaços de prisioneiros israelitas, patrícios de Jonas.

O crente em JESUS não deve ser vingativo. Ao contrário, deve amar os inimigos e orar por eles. Mas, o nosso personagem queria vingança! Vejamos sua reação, depois que Deus, mais tarde, resolveu perdoar os ninivitas: “Ah, Senhor! Não foi isso que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso me preveni, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus piedoso e misericordioso, longânimo e grande em benignidade, e que te arrependes do mal...” (Jn 3.10; 4.1,2). Naquele momento, Jonas se parecia mais com alguns crentes de outrora. Oravam, às vezes, desejando que seus inimigos fossem destruídos com fogo do céu (Lc 9.52-54) ou, era como certos “cristãos misericordiosos” de hoje. Quando feridos por alguém, oram: “Senhor, põe beltrano no leito de dor...!”

Apenas uma vez vemos Jonas realmente feliz. Foi, quando, sob um calor terrível, o Senhor fez-lhe nascer uma aboboreira, cujas folhas especiais serviram-lhe de guarda-sol (Jn 4.6). Porém, Deus, que já o levara para Nínive por um peixe, utilizou-se de outro animal (talvez um simples verme), que danificou a planta, acabando, assim, com o seu conforto. Terminou, então, a “mordomia” de Jonas que, sob o forte sol e pouco vento, chegou a desmaiar. Por isso, mais uma vez, pediu a morte, dizendo: “Melhor me é morrer do que viver...” (Jn 4.7,8). Mas, na verdade, o Senhor queria dar-lhe uma lição de misericórdia. Porque, tão logo o profeta mostrou-se com pena da aboboreira, Deus não perdeu (nunca perde!) a oportunidade. Provocou um diálogo.

--É acaso razoável que assim te enfades por causa da aboboreira?

--É justo que me enfade a ponto de desejar a morte.

--Tiveste compaixão da aboboreira..., disse Deus, e não hei eu de ter compaixão da grande cidade de Nínive em que estão mais de 120 mil homens, que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais? (Jn 4.9-11)

O Senhor sabia que, se avisada previamente, Nínive deixaria suas abominações. Por isso, tudo fez para que o profeta pregasse àquela cidade. Quando ele navegava para Társis, o Mediterrâneo, quem sabe, estava qual um “mar de Almirante”. Parecia um vasto espelho plano refletindo, talvez, um lindo céu azul ensolarado. Mas, de repente, o Criador resolveu modificar a paisagem. Escureceu o céu, tornou forte o vento e arremessou ondas enormes contra o navio do servo desobediente. Àquela hora, dentre tantas outras em todos os oceanos, a embarcação de Jonas era a que mais chamava a atenção do Céu. Afinal, milhares de pessoas, inclusive crianças, dependiam da mensagem que só ele deveria pregar.

O navio quase foi à pique. Os passageiros, exceto um, clamavam desesperadamente aos seus deuses; lançavam fora a carga (de cereais, talvez, e outros materiais importantes para a tripulação). Queriam evitar uma tragédia. Mas, tudo em vão. O mestre, coitado, já não sabia mais o que fazer. Devia estar tremendamente preocupado. E, quem sabe, procurando algum vazamento, desceu até o porão. Ali, no berço do indiferentismo, trancado em seu mundo, estava Jonas.

Ninguém consegue fugir do Senhor. Aliás, o rei Davi sabia disso. Escreveu: “Para onde irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu tú aí estás; se fizer no Seol (no profundo abismo) a minha cama, eis que ali estás também...” (Sl 139.7,8). Portanto, foi Deus quem levou o mestre do navio até Jonas. Fez que o despertasse, não só do sono, mas, também, para que sentisse o drama da tripulação.

Agora, não havia outra saída para o profeta. Teve que declarar toda a sua identidade. Disse-lhes: “Eu sou hebreu, e temo ao Senhor, o Deus do céu, que fez o mar e a terra seca...” (Jn 1.8,9). Confessou-lhes, também, estar fugindo de sua responsabilidade. Pelo menos foi sincero, coisa que poucos, inclusive alguns crentes, conseguem ser. Enquanto isso, o navio, provavelmente de madeira, já quase não suportava o impiedoso castigo da natureza. Tanto que o profeta, já denunciado, decidiu colaborar, ainda que lhe custasse a vida.

Levantai-me e lançai-me ao mar...” disse ele, “...e o mar se aquietará; porque eu sei que por minha causa vos sobreveio esta grande tempestade...” (Jn 1.12). Apesar do temor dos tripulantes, querendo evitar um possível afogamento de Jonas, não houve outro jeito. Pegaram o homem de Deus e lançaram-no nas águas encapeladas do mar. Mas, ele não podia morrer! Teria que cumprir sua missão...

Portanto, o Senhor que faz de Sua criação o que bem entende, providenciou um grande peixe. Alguns o traduziram como baleia, o que tem provocado certa incredulidade, devido ao pequeno diâmetro de sua garganta. Mas, quem sabe, tenha sido um “Cachalote”, muito comum no mar europeu. É um anfíbio tão grande quanto o primeiro, só que, além de bocarra, possui, também, uma vasta goela capaz de engolir um homem. Mas, não é somente por isso que devemos crer. Creiamos, principalmente, porque foi o próprio Criador quem “deparou” o peixe (Jn 1.17). Ademais, muitos anos depois, JESUS considerou tudo real, quando falava de Sua morte e ressurreição; citou, inclusive, no mesmo contexto, pessoas históricas como Salomão e a Rainha de Sabá (Mt 12.39-42).

Pois é, após Jonas ter passado três dias no ventre do peixe, Nínive, finalmente, iria receber a mensagem salvadora. A praia da grande cidade foi o ponto final do passageiro mais importante da capital assíria. Ali, foi vomitado e, certamente agradecendo muito ao Senhor, banhou-se, retirando do corpo detritos salivares. Depois de tanta luta, lá estava o profeta, pelas ruas da cidade, cumprindo o seu dever. A partir daquele instante, os ninivitas adoraram a Deus e, segundo os historiadores, pelo menos por duzentos anos, não foram destruídos.

Meditemos bem na situação de Jonas. Não seria o caso de estarmos, qual ele, sofrendo os reflexos da desobediência? Quem somos? Que faremos? Para onde estamos indo...? Que o Senhor nos guarde dos caminhos de Társis!



Por: Vilmar Salema de Oliveira

(Fonte: MP.1202/Jun.1987)


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