Neste tratado aprendemos qual caminho o homem deve trilhar a fim de se apresentar justo perante Deus. Aprendemos, também, que nenhum esforço humano é capaz de demover Deus da Sua intenção de mostrar ao homem que JESUS é o único e infalível caminho para a justificação.
A VERDADE EXPLICADA:
Ninguém sabe quem era Jó. Os eruditos identificam-no indecisamente como um "Xeque" ou líder de clã árabe que vivia um Uz (a leste da Palestina, entre a Síria e Edom), um homem muito rico e de grande integridade. A Bíblia diz que era "...homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desviava do mal" (Jó 1.1). Um certo texto arqueológico menciona o nome de Jó e leva a data de mil e novecentos anos antes de Cristo.
Repentinamente, Jó sofreu uma série de reveses. Perdeu, num só dia de festa de aniversário, todo o gado, todos os camelos e todos os filhos. Ficou sem nada. Só a mulher escapou. Blasfemava, porém a Deus e o aconselhava a fazer o mesmo, pois a essa altura, Jó havia perdido também a saúde. O pobre Jó ficou sentado durante vários dias, procurando analisar o mistério do sofrimento que o envolvia. Três amigos compareceram, tentando confortá-lo, mas só tinham isto a dizer: que, evidentemente, seus sofrimentos e perdas eram o resultado dos pecados que ele havia cometido. Era um problema grande demais para Jó solucionar.
Será que o sofrimento é sempre por causa de pecados? Será que o infortúnio vem porque a pessoa era muito remissa em alguma coisa? Decerto Deus é justo e todos os Seus caminhos são retos. Mas como vamos conciliar isso com as calamidades que acontecem: a desventura, a dor e o sofrimento? Era este o problema de Jó. Certamente havia algum fator negativo, desconhecido ainda, atribuído a ele. Fator misterioso demais para ser discernido. "Como pode o homem (Jó neste caso) ser justo para com Deus?" Esta era a interrogação incisiva que, constantemente, repetia-se no íntimo de sua alma e que se fazia durante milênios, até que o apóstolo Paulo veio responder: "E as obras da lei? São necessárias?" Paulo responde: "A lei não resolve nada!"
Se alguém perguntasse se houve algum caso de quem fosse justificado sem as obras da Lei, no Velho Testamento, Paulo responderia que sim, pois Abraão simplesmente creu em Deus e isso lhe foi imputado para a justiça (Rm 4.3).
A PERGUNTA IMPORTANTE DE JÓ
A própria consciência de todo homem atesta que ele está afastado de Deus. O pecado, em que todos nós incorremos, causou um terrível desastre. O pecador sente-se condenado. É como a pessoa que praticou fraude contra seu amigo. Imediatamente ele se sente isolado. Por isso Adão e Eva fugiram da Sua presença e procuraram esconder-se na floresta.
Agora, como pode ser corrigida esta situação? Esta é a pergunta de Jó e o objetivo de sua pesquisa. Paulo responde que existe só um caminho: o caminho da fé, sem quaisquer obras da lei.
A JUSTIFICAÇÃO PROCEDE DE DEUS E NÃO DO HOMEM
Somente Deus pode autorizá-la. As providências humanas são totalmente inadequadas. O ímpio, malfeitor como é, condenado, sujo, cheio de malfeitos, nada pode fazer para remediar sua lastimável situação. As lágrimas do remorso e as promessas com que jura nunca mais errar jamais apagam a rebelião contra Deus. A razão disso é muito simples: a obediência a Deus é um dever normal. Ela também não contém nenhum elemento reparador nem paga pelas infrações anteriores. Por exemplo: se eu tivesse ofendido um amigo ontem, nenhum ato de bondade feito hoje poderia quitar essa ofensa de ontem. Qualquer moralidade é sempre insuficiente para quitar o condenado perante a justiça de Deus.
Certa vez alguém perguntou a uma menina:
-- As pessoas te amam quando tu fazes arte?
Ela respondeu:
-- Elas não, mas mamãe me ama!
Aí está também o sentido do Evangelho! Deus, nosso Pai, nos ama!
Perguntaram-lhe ainda:
-- Por que a tua mãe te ama?
Ela respondeu:
-- Porque ela me ama!
Isso é o que Paulo também disse: "Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós..." (Rm 5.8). Explicar porque a mãe ama a filhinha é como explicar porque Deus ama o pecador: por causa do Seu amor. Ele é o autor da justificação. Ninguém pode justificar-se a si mesmo, pois o homem é o autor do seu pecado. Afastar-se de Deus e pecar contra Ele, isso ele pode fazer. Mas consertar o que quebrou, isso ele não tem condições para fazer. Precisa de Alguém maior do que ele. Esse Alguém é JESUS que proveu a redenção. Paulo disse: "...sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus..." (Rm 3.24).
A NATUREZA DA JUSTIFICAÇÃO
"Justificar" é um termo legal. É da conversa de advogados e juízes. Para ilustrar o caso, vamos supor que um homem tenha sido acusado e esteja diante do tribunal para ser julgado. Para ser justificado, esse homem terá que estabelecer a sua inocência. Mas, se for condenado, não existe nenhum dispositivo da lei que possa conceder-lhe a justificação. Posteriormente, ele poderá ser solto da prisão, mesmo antes de vencer o tempo da pena estipulada, ou poderá ser perdoado, ou a sua sentença comutada, mas justificado nunca mais! O histórico do caso sempre ficará ali arquivado como documento contra ele. Na lei a única maneira de conseguir a justificação é estabelecer-se a inocência.
Mas agora vamos supor um caso que realmente pode acontecer. É o caso de um homem, após um processo legal e justo, que é condenado à morte por seu crime. Culpado ele é, e de maneira alguma pode ser justificado. Mas vamos supor que fosse possível um outro homem entrar nessa situação e assumir toda a culpa do condenado. Trocaria de lugar com ele e, por um processo misterioso, verdadeiramente, se tornaria aquele homem, tomando sobre si o próprio caráter do réu e transmitiria ao réu as suas próprias virtudes. Neste caso, o segundo homem seria aceito no lugar do primeiro, o réu. Só uma transformação de posição e de qualidades poderia resolver o seu problema.
Isso é exatamente o que tem acontecido conosco. JESUS tomou o lugar do réu, o pecador que ofendera a lei de Deus. Deus já fez o Seu pronunciamento, já registrado na Bíblia, que Ele aceitará qualquer pecador, qualquer réu, que pedir transferência de sua culpa para Seu Filho JESUS. Eu já aceitei esta proposta divina porque percebi que era a minha única saída do horrível dilema em que me encontrava. Agora Deus afirma que nenhuma condenação há para quem está em Cristo JESUS (Rm 8.1). E isto não é estória, não é um vago desejo qualquer. Mas é uma realidade! Gloria a Deus! JESUS é a resposta! Por Ele ser o nosso substituto, a justiça de Deus ficou satisfeita.
OS RESULTADOS DA JUSTIFICAÇÃO
O pecador é remido da sua culpa. É perdoado dos delitos que ofenderam a lei e o amor de Deus. Sendo Deus o ofendido, é só Ele quem tem condições de nos perdoar. Sendo Ele um Pai, o Seu amor também se manifesta. Ele perdoa livremente.
Mas a justificação é mais do que remissão, mais do que um indulto ou perdão. Se fosse apenas perdão, ainda ficaríamos na posição dum criminoso, solto da penitenciária, que, não obstante, ainda tem um processo contra si. É um homem marcado, afastado, de certa forma, da sociedade, sem condições de encontrar emprego e sem direito de voto. Sua tendência para a vida marginal ainda está nele e não demora muito. Ele procura os velhos companheiros e a velha vida do crime. Mas Deus, quando liberta um pecador, ajuda o transgressor. Este recebe uma nova natureza, como JESUS ensinou a Nicodemos. O homem nasce de novo, entrando numa nova vida de alegria e paz espiritual. O Espírito de Cristo habita naquele coração e ajuda-o a viver de acordo com a vontade de Deus. Os maus costumes e os pensamentos ofensivos começam a desaparecer diante do influxo do poder espiritual. Graças a Deus, a justificação que Ele provê realmente transforma o mais vil pecador.
Contudo, não basta que a justificação esteja provida para nós. É necessário que busquemos a graça de Deus. Temos que aceitá-la. O homem perdoado pelo juiz naturalmente não continuará preso em sua cela. Quando o portão se abre, ele sai. Ele aceita o perdão. O pecador que não aceitar o perdão de Deus perderá todos os seus direitos. Como vamos aceitar o perdão que Deus oferece? Ninguém, em todo o universo, teria concebido este plano de salvação por remissão e justificação. É grande demais para a mente humana entendê-lo. E Deus não exige que ninguém o entenda. Mas o que Deus exige é que o pecador o aceite.
O PREÇO DA JUSTIFICAÇÃO
Não há nada a pagar. Como salário ou recompensa também a justificação não é oferecida. Martinho Lutero descobriu esta verdade. Em sua alma ecoou naquele estado de frustração igual ao de Jó, aquela palavra celestial: "O justo viverá por fé!" (Rm 1.17). Lutero fazia aquelas romarias, confessava seus pecados, castigava o corpo, fazia penitência, mas nada lhe valeu, até que descobriu que a justificação da alma é dada por Deus, mediante a simples fé em Suas promessas.
Lawrence Olson
(Raio de Luz 84/Mar.1992)
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