sexta-feira, 6 de maio de 2022

A HISTÓRIA DO CENTURIÃO

 A VERDADE:

"O meu trabalho era evitar que JESUS morresse no poste. Nós queríamos um corpo vivo para colocar na cruz. Então, depois de três minutos ou mais, eu dei a ordem para parar de bater".


A VERDADE EXPLICADA:

Eu sou um centurião(1) romano. Você já ouviu falar de mim. A história não conhece meu verdadeiro nome. Romancistas tem me chamado de Claudius, Gaius e uma lista de outros nomes romanos. Mas meu verdadeiro nome permanece oculto. E para mim tudo bem. Eu estava de serviço na reunião que determinou a execução de JESUS de Nazaré por meio de crucificação.

Eu vi pela primeira vez este galileu(2) cerca de oito horas da manhã, no dia de Sua morte. Ele já havia sido julgado pelo Sinédrio(3) -- aquele grupo de 70 judeus que fugia dos afazeres religiosos e sociais deste país. O Sinédrio acusou JESUS de blasfêmia, uma acusação que virtualmente nada significava para Pilatos. Assim, eles acrescentaram a acusação de sedição(4) contra o estado. Nada podia erguer mais rapidamente um homem na cruz do que aquilo! Deus sabe que eu crucifiquei muitos deles aqui.

O Sinédrio queria que JESUS fosse crucificado, mas eles precisavam de uma sanção oficial de Pilatos para levar a cabo seus desejos. Normalmente isto não era suficiente para obter do governador a assinatura da ordem de morte. Ele já havia assinado duas ordens para dois ladrões no dia anterior ao que JESUS apresentou-Se diante dele. O julgamento aconteceu no lugar onde chamamos de Litostrotos ou salão principal. O prisioneiro já estava quase que completamente batido. Seus olhos estavam inchados e Suas mãos estavam amarradas nas costas. Pilatos interrogou-O com certa compaixão por Ele, eu senti. Ele disse que não havia culpa no Homem e, eu acho, estava para soltá-Lo quando alguém lembrou o fato de que JESUS era galileu.

Aquela região era governada por Herodes, que por acaso estava em Jerusalém naquela manhã. Devo acrescentar que Herodes era louco e tinha ficado assim desde que executara um profeta chamado João. Tudo que Pilatos realmente queria era ficar livre de JESUS, então O remeteu a Herodes. Mas, para seu desânimo, Herodes o enviou de volta, depois de maltratar fisicamente o prisioneiro.

Agora já eram 10 horas da manhã. O sol estava alto quando um Pilatos muito temperamental foi chamado de volta à sessão. Ele sabia que JESUS não merecia ser punido com a morte; mas, por outro lado, ele compreendia bem a cruel desconfiança de Tiberius. Se o imperador suspeitasse que algum oficial romano não havia se esforçado com um suposto criador de problemas... Então Pilatos tinha que condenar JESUS. O governador também poderia ter matado JESUS lá. O espancamento com chicote era conhecido como 'a morte viva'. O prisioneiro foi amarrado firmemente numa pequena coluna. O soldado responsável pelas chicotadas estava em pé cerca de dois metros atrás do galileu e trazia o chicote na mão. Quando as tiras de couro batiam nas costas de JESUS, soavam como a batida triste de um tambor, e logo os vergões surgiam. O prisioneiro gemia lentamente enquanto o chicote se movia em ritmo lento e pesado.

Era meu trabalho cuidar para que JESUS não morresse no poste. Nós queríamos um corpo vivo para colocar na cruz. Assim, após três minutos ou mais, eu dei a ordem para parar com as chicotadas. O prisioneiro foi desamarrado do poste e colocado numa cadeira. Ele levantou os olhos para o alto, todo Seu corpo se agitava e Seus dentes rangiam. Ele sentia uma dor desesperada. Mas Seu sofrimento apenas tinha começado. Um dos meus homens tinha trançado uma tosca(5) coroa de espinhos. Antes que eu pudesse impedi-lo, ele a enfiou na cabeça de JESUS, cortando-Lhe o couro cabeludo. Um outro homem colocou um manto vermelho em volta de Seus ombros, curvou-se diante d'Ele e de maneira escarnecedora disse: "Longa vida ao Rei dos judeus".

Foi somente mais tarde que Pilatos se submeteu ao desejo da multidão e disse: "Crucifiquem vosso Rei..." Por volta do meio-dia os prisioneiros e os soldados responsáveis pela execução alcançaram o Calvário, cerca de 50 metros ao norte do portão da cidade. Nós, romanos, já há muito tempo optamos pela cruz como uma maneira de dissuadir(6) o crime e a insurreição(7). Nós achávamos que cravando pregos nas mãos e nos pé da vítima, acabaríamos em pouco tempo com suas atividades anti-romanas.

Eu precisava de três cruzes neste dia -- duas para os ladrões e uma para Aquele homem derrotado chamado JESUS. A parte da cruz que fizemos JESUS suportar era chamado patíbulo(8), a parte na qual pregaríamos Suas mãos. Meu principal carrasco pôs o patíbulo atrás de JESUS e deitou-o no chão. Dois soldados tomaram cada um um braço e levantaram-no na viga de madeira; nosso prisioneiro não lutou conosco como muitos outros faziam. O carrasco pegou dois pregos de cinco polegadas e cravou-os na carne de JESUS fincando-a na madeira, tomando o cuidado de dobrar-lhes a cabeça, a fim de que a vítima não se soltasse.

Então meus homens agarraram cada lado do patíbulo e levantaram JESUS por Seus pulsos e mãos que sangravam. Foram necessários quatro homens para levantá-Lo do chão e encaixar o patíbulo no buraco até colocá-lo perfeitamente na vertical. A viga da cruz estava firme e o carrasco pregou os pés de JESUS, o direito sobre o esquerdo, na cruz. E o trabalho estava concluído. JESUS foi crucificado, encarando os muros da cidade pela última vez. Até aqui, minha história é uma história comum de execução romana. Mas, daqui por diante tudo é diferente. E você precisa saber o que aconteceu.

Por várias horas JESUS permaneceu na cruz central. De ambos os seus lados, dois ladrões nos ultrajavam, dirigindo-nos toda sorte de impropérios(9). Mas JESUS não. Eu O vi levantar-Se sobre os pés que sangravam até que Seus ombros estivessem encostados no patíbulo. Ele respirava rapidamente. Ele não conseguia suportar o peso do Seu corpo apoiando-se sobre aqueles pés perfurados e aquelas pernas com câimbras e, mais uma vez, deixou o Seu corpo desabar ficando pendurado apenas pelas mãos. Ele olhou para mim, diretamente nos meus olhos, por muito tempo. E eu O ouvi orar: "Pai, perdoe-o e também aos outros soldados. Eles não sabem o que estão fazendo..." Pela primeira vez em muitos anos, lágrimas rolaram dos meus olhos, borrando a figura daquele Homem em sofrimento.

Então escureceu. Note bem, era meio-dia em Jerusalém. Mas tudo se transformou em trevas. Era como se a noite tivesse caído sobre a cidade santa muito antes do horário certo. Aqueles que assistiam a execução entraram em pânico. Alguns gritavam e corriam. De princípio, não houve trovão ou relâmpago, apenas terríveis trevas. Isto durou quase três horas até que nossa vítima do centro endireitou-Se em Sua cruz pela última vez. Onde Ele conseguiu forças  para fazer aquilo? Seu grito rasgou o ar: "ESTÁ CONSUMADO!"

E todos os deuses de Roma podem me castigar se eu estou mentindo a você agora! O chão começou a tremer e uma pequena fenda rachou a terra, desde a cruz para o leste, até a cidade. Ela atingiu o templo e o véu que separava o Santo dos Santos do homem se rasgou de cima para baixo. E, eu juro a você, sepulturas começaram a se abrir. A figura da cruz central estava bem morta, enquanto meus soldados que estavam ao redor perguntavam: "O que significa isto, centurião?" E eu lhes respondi: "Homens, nós realmente crucificamos o Filho de Deus!


Por: Dan Cetzer

(Fonte: MP 1196/Dez.1986)


(1) centurião liderava um tropa de elite, tendo sob o seu comando um grupo de cem homens altamente treinados e obedientes, dispostos a tudo.

(2) relativo à Galileia, região setentrional da Palestina, ou o seu natural ou habitante.

(3) na Palestina, sob o domínio romano, assembleia judia de anciãos da classe dominante à qual diversas funções políticas, religiosas, legislativas, jurisdicionais e educacionais foram atribuídas.

(4) perturbação da ordem pública; desordem, rebuliço.

(5) feito sem apuro ou refinamento; grosseiro, rústico.

(6) convencer (alguém ou a si mesmo) a mudar de ideia, a abdicar de uma decisão; despersuadir(-se).

(7) oposição forte e veemente; rebeldia.

(8) palanque ou estrado montado em local aberto para sobre ele executar condenados.

(9) censura injuriosa; repreensão.






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