sexta-feira, 13 de maio de 2022

A IGREJA NO SEU LUGAR

 A VERDADE:

"Diz o texto que o povo permaneceu no seu lugar, ordeiramente, ouvindo atentamente e procurando entender a leitura que se fazia. O povo estava no seu posto, isto é, no seu lugar, sem reboliço, sem falatório, sem comentários desairosos, sem murmuração e sem rejeição ao que era lido e ao que lia".


A VERDADE EXPLICADA:

Cerca de treze anos depois que foram reconstruídos os muros de Jerusalém, por Neemias (Ne 8.2), o sacerdote Esdras tomou a direção religiosa da nação e começou o seu ministério reunindo o povo para ouvir a leitura da lei que fora estabelecida por Moisés. A prédica(1) começou desde os albores(2) da manhã até o meio dia do primeiro dia do sétimo mês. Em todo esse tempo, dizem os registros que todos permaneceram no seu lugar e que todos os ouvidos estavam atentos ao livro da lei. Nenhuma dispersão(3), nenhum cansaço, nenhuma distração, nenhuma reclamação, o que nos faz entender a fome que havia por ouvir a Palavra de Deus. No momento em que o livro foi aberto, todos ficaram de pé e à medida que Esdras pronunciava as aleluias, respondiam com louvores e levantavam as mãos e inclinando-se adoravam a Deus com o rosto em terra.

Depois da leitura feita por Esdras, outros sacerdotes se revezavam na leitura e no ensino, interpretando o texto, de modo que todos entendessem. A conscientização do povo alcançou nível tal que houve grande pranto e lamentações obre o tempo em que nenhum ensino lhes fora dado e que por consequência os homens e mulheres viveram segundo os seus caminhos e segundo os seus pecados. Mas os sacerdotes trouxeram-lhes palavras de consolo, mostrando que “na presença do Senhor há fartura de alegria” e que não era ocasião para pranto e lamentação, mas para regozijo diante da leitura da Palavra de Deus. Conforme o Eclesiastes, “há tempo de chorar e tempo de rir”.

Em algumas igrejas há também atualmente esta espécie de confusão. Diante da leitura bíblica, ou da pregação da mensagem, irmãos e irmãs sentem-se compungidos(4), atingidos pela Palavra e ao invés de glorificar a Deus pelo ensino que estão recebendo, desmancham-se em prantos que eles mesmos não sabem explicar. A Palavra de Deus não é chicote, mas bálsamo para nossas fraquezas. Disto foi conscientizado o povo por Esdras, os levitas e demais sacerdotes que representavam a voz de Deus: “Este dia é consagrado ao Senhor nosso Deus, pelo que não vos lamenteis, nem choreis...” (Ne 8.9)

Depois que a leitura foi feita, Esdras despediu o povo, para que nas suas jurisdições fizesse festas e banquetes e instruiu aos de maiores posses a que se lembrassem dos pobres, enviando-lhes dádivas(5) e comida para que juntos pudessem comemorar aquele dia especial. Os levitas também aconselharam o povo que cessasse aquele pranto e que removesse do coração qualquer tristeza. Então a multidão começou a alegrar-se e a louvar a Deus.

Há crentes que fazem da Ceia do Senhor um motivo de tristeza e de medo, diante da solenidade do ato. Quando é lido o texto promocional da Ceia – “...examine-se cada um...”, muitos tomam estas palavras no sentido pejorativo, interpretando que não devem participar, quando o versículo diz: “...e assim coma deste pão e beba deste cálice...”.

Diz o texto que o povo permaneceu no seu lugar, ordeiramente, ouvindo atentamente e procurando entender a leitura que se fazia. O povo estava no seu posto, isto é, no seu lugar, sem reboliço(6), sem falatório, sem comentários desairosos(7), sem murmuração e sem rejeição ao que era lido e ao que lia. Quantas vezes ouvimos de alguém uma recusa a quem está lendo a Palavra, ou entregando a mensagem. Algumas pessoas ausentam-se da nave do templo à simples menção de determinado pregador. Se é procedente esta rejeição, cremos que o tal deveria melhorar sua maneira de ensinar, sua aparência pessoal, sua voz e suas atitudes no púlpito. Mas na maioria é apenas caso pessoal, antipatia por parte dos que rejeitam certos pregadores. Em alguns casos é reflexo do seu combate à vida desarranjada dos que desejam viver do seu próprio jeito.

No posto para ouvir – Mediante a convocação, o povo se arregimentou(8) no lugar aprazado(9) para ouvir. Não houve dispersão, ninguém desprezou o convite para ouvir a Palavra de Deus. A multidão se reuniu no mesmo lugar, como no dia de Pentecostes (At 2.1).

No posto para aprender – Muitos crentes ouvem a Palavra durante anos, mas não aprendem. Paulo disse que alguns que já deviam ser mestres precisavam ainda de ser alimentados com leite, isto é, com rudimentos(10), com o be-a-bá da doutrina. Há, entretanto, os que se esforçam para aprender os estatutos do Senhor.

No posto para chorar – A conscientização se deu de tal maneira que o povo se sentiu levado a lamentar e chorar a vida impura que levava por falta de ensino. Mas quando lhe foi mostrada a verdadeira situação espiritual reconheceu a sua carência e necessidade de remissão(11).

No posto para se alegrar – Os sacerdotes, porém, mostraram que aquele dia era de comemoração e não de lamentação. Que Deus não é um carrasco nem carcereiro. Que a Sua graça e misericórdia é maior do que as nossas faltas e pecados, conforme I João 3.20

No posto para comemorar – Logo que o povo entendeu o verdadeiro significado do ensino e foi dispensado da reunião, cada grupo foi para sua cidade e instruído pelos sacerdotes realizou grandes festas e banquetes.

No posto para socorrer – Talvez uma atitude que não fazia parte da vida normal do povo, a caridade, foi incorporada aos seus hábitos e levou-o a enviar auxílio e socorro aos pobres, desamparados e necessitados.

O autor evangélico nos diz que devemos “estar com Cristo onde a luta se travar”, donde se infere(12) que em todas as circunstâncias há um lugar para a igreja e que a igreja deve ser achada no seu lugar.



Por: Miguel Vaz

(Fonte: MP 1240/Jun.1990)


1 - discurso religioso; sermão.

2 - diz-se de início, começo.

3 - debandada, correria, desbarato.

4 - causar a, ou sentir enternecimento; sensibilizar(-se).

5 - objeto que se dá gratuitamente. Presente.

6 - excesso de agitação; tumulto exagerado; falta de ordem; desordem ou confusão.

7 - que demonstra falta de decoro, de brio; inconveniente.

8 - reunir(-se) em partido, associação ou grupo; alinhar(-se).

9 - determinar prazo ou lugar.

10 - primeiras noções de uma arte ou ciência.

11 - sentimento de misericórdia, de indulgência; compaixão.

12 - fazer inferência sobre; concluir, deduzir.











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