A VERDADE:
"Na realidade, o que chamamos de anti-semitismo não passa de um anti-israelitismo crônico. Seja como for, trata-se de um crime tão antigo como a própria incoerência humana".
A VERDADE EXPLICADA:
O mundo estava convencido de que os judeus eram a causa de todos os males que infelicitavam a civilização. Sobre a família de Jacó, injúrias e lutos. Nenhuma nação punha-se a acalentar o choro de Raquel. Diante de um quadro tão desolador, o anti-semitismo parecia o vocábulo mais apropriado para cognominar o sentimento que tanto vitimava a prole hebréia. Mas de novo, o que possuía o novo vocábulo? Wilhelm Marr, o criador do malfadado logismo, sabia muito bem que aquele termo não passava de uma maquiada e renovada infâmia.
Particularmente, não considero a tal palavra totalmente adequada para qualificar as agressões que os israelitas vem sofrendo desde que se constituíram em nação. Em primeiro lugar, se existisse de fato um crime chamado „anti-semitismo‟, Israel não seria a única vítima da sanguinolência de Jafé. Os árabes também compartilhariam das mesmas dores. Acaso não pertencem eles à linhagem de Sem? No entanto, durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, os árabes prestavam inestimável auxílio ao regime hitlerista no Oriente Médio, enquanto seis milhões de judeus eram assassinados pelos nazistas na Europa.
Na realidade, o que chamamos de anti-semitismo não passa de um anti-israelitismo crônico. Seja como for, trata-se de um crime tão antigo como a própria incoerência humana.
Quando faraó tentou destruir os infantes hebreus, nada mais fez do que revelar um incontrolável anti-semitismo. O mesmo há que se falar dos assírios e babilônios, persas e gregos. Antíoco Epifanes foi um dos mais afamados anti-israelitas. Com o seu estúpido plano de helenizar a Judéia, cometeu milhares de assassinatos; por pouco não consegue extinguir a descendência de Jacó. E o que dizer de Pompeu? De Vespasiano e Tito? Gostaria de saber que nação ainda não foi contaminada por este maldito vírus?
O Cristianismo e o Anti-semitismo
A história também não pode se calar acerca daqueles que, apesar de se dizerem cristãos, devotam incontrolado ódio ao povo que lhes tem dado as mesmas bases de fé. Será que os tais seguidores do Nazareno encontram-se realmente sob o signo da cruz?
Nos escritos de alguns dos chamados pais da Igreja, nota-se um explícito anti-semitismo. Eis como se pronunciou o eloquentíssimo João Crisóstomo a respeito da sinagoga: “...é um prostíbulo e um teatro... um covil de animais impuros... nunca um judeu orou a Deus... são todos possessos pelo diabo.” O que poderia ter levado um homem tão ilustrado como Crisóstomo a dizer tais asneiras? E a situar-se tão anomalamente no esclarecido chão da história? Mas as extravagâncias do cristianismo nominal não param por aí. Do movediço campo da ideologia, concretizaram-se essas ações até atingir a integridade física da progênie abraâmica.
Em 321, Constantino transformou o Cristianismo na religião oficial do estado. Os cristãos, dantes tão perseguidos, foram cumulados de regalias. O clero perdeu a simplicidade dos primitivos discípulos. Foi tomado por um exacerbado orgulho e passou a ver, nos israelitas, a escória e a desgraça do mundo. Para os iluminados párocos e bispos, a sinagoga era o mais perfeito antônimo da igreja. Se a igreja era a luz, a sinagoga só podia ser a embaixada das trevas.
Enquanto isso, os judeus começaram a perder os poucos direitos que haviam conquistado. Foram proibidos de fazer prosélitos. Não puderam mais prestar o serviço militar, nem exercer qualquer função pública. Sob o governo de Justiniano, as restrições aumentaram. A comunidade judaica viu-se forçada a celebrar a páscoa numa data que não coincidisse com a páscoa cristã. Para os cristãos nominais dessa recuada época, até o ar que os israelitas respiravam estava impregnado de apostasias. Por conseguinte, quanto menos contato com o povo escolhido, melhor. Pode haver estupidez maior?
Na Idade Média, a igreja católica tornou a situação dos judeus insuportável. Eis o que registra a Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã: “Os judeus, em grande medida, eram excluídos da cultura cristã medieval. Procuravam evitar as pressões sociais, econômicas e eclesiásticas, habitando por trás de muros e guetos. Era-lhes permitido, no entanto, a prática da usura. Isto levou os cristãos a acusá-los de serem um povo de párias. Os judeus foram obrigados a usar um chapéu distintivo ou uma emenda costurada nas suas roupas. Eram acusados de ter um cheiro distintivo, em contraste com o odor de santidade‟. Os judeus também eram caluniados como sendo os assassinos de Cristo; os que profanavam a hóstia, responsáveis pela morte de criancinhas cristãs, causadoras da disseminação da peste negra, envenenadores de poços, que mamavam em porcas. A primeira Cruzada (1096) resultou em numerosos suicídios em massa pelos judeus que procuravam evitar o batismo forçado”.
Com a Inquisição, o seu sofrimento chegou às raias do inacreditável. Somente o gênio de Dante poderia descrevê-lo. Em nome da pureza da fé cristã, foram submetidos às mais indescritíveis torturas. Milhares de homens, mulheres e crianças foram presos e outros milhares queimados vivos. Na tentativa de salvar a vida, muitos sefarditas aceitaram o batismo imposto pelo “piedoso” clero. Não bastassem tantas desgraças, em 1492, os filhos de Abraão foram expulsos da Espanha. Terminava de maneira tão ultrajante a florescente comunidade que contribuíra decisivamente para o progresso das duas mais poderosas nações do século XVI: Espanha e Portugal.
Na Polônia, os infortúnios da comunidade judaica não foram menores. Certa ocasião, dois judeus, acusados de bulirem nos santos óleos, tiveram as línguas arrancadas. Eis como um nobre polonês regozijava-se em castigar um desventurado pai judeu: “Ontem, ordenei que o acorrentassem e o encarcerassem na pocilga; não obstante, permiti que sua mulher e filhos permanecessem na estalagem. Apenas o seu filho mais novo, Leizer, foi trazido à minha casa, onde mandei que lhe ensinassem os princípios de nossa fé e as nossas preces. O menino tem capacidades muito invulgares.
Tenciono mandar batizá-lo, e sobre isso já escrevi ao bispo; ele prometeu estar presente ao batismo e preparar a alma da criança. A princípio, Leizer recusou-se a fazer o sinal da cruz e a repetir nossas preces; mas Strilitzki o açoitou, e hoje ele até comeu carne de porco. O pároco de nossa igreja, Boiniafiati, membro da Ordem Minorum de Observantia teve grande trabalho para vencer a obstinação do garoto e trazê-lo à nossa fé.”
Infelizmente, os judeus não sofreram apenas com os católicos. Os protestantes causaram-lhes também muitos males. O próprio Lutero publicou uma série de panfletos, incitando a ira alemã sobre os desprotegidos filhos de Israel. Em uma dessas obras, mostrou-se mais do que incisivo e chegou a propor o banimento dos judeus da Alemanha: “Expulsemo-los do país para todo o sempre.” Como seria bom se a Reforma conseguisse desvencilhar-se do anti-semitismo que sempre caracterizou o catolicismo romano. Martinho Lutero deveria ler com mais atenção a Epístola de Paulo aos Romanos, para conscientizar-se de que o Todo-Poderoso não rompeu o pacto estabelecido com o Seu amigo Abraão. Este pacto, firmado com as cores da eternidade, jamais será revogado. E, quem somos nós para julgar a semente de Jacó? Se também dependemos da misericórdia de Deus?
O anti-semitismo atual
O anti-semitismo atual teve início com um rumoroso caso envolvendo um oficial francês de origem judaíca. Acusado de alta traição, o capitão Alfred Dreyfus foi degradado e mandado à Ilha do Diabo. Posteriormente o caso foi reaberto e a justiça militar francesa convenceu-se da inocência do pobre Dreyfus. O episódio todo foi acompanhado por um jornalista chamado Theodore Herlz que foi tomado por uma inabalável convicção. Como ele também era de ascendência hebraica, concluiu que os judeus só seriam felizes em sua própria terra. E, enquanto estivessem espalhados pelo mundo, não passariam de párias num mundo que tanto alarde faz de sua civilização.
Os temores de Herlz não eram infundados. No século XX, o anti-semitismo mostrou-se mais do que virulento. Haja vista o holocausto perpetrado pelos nazistas e que causou a morte de seis milhões de judeus. Foi um crime de tal forma inominável que os juristas tiveram dificuldades em qualificá-lo. É só visitar o memorial Yad Vashen em Jerusalém para convencer-se de que o homem continua a ser o lobo do homem. E, que o vigésimo século de nossa era só conseguiu uma coisa: decuplicar a selvageria humana. Quando falamos no holocausto, não podemos evitar esta indagação: o que teria levado a culta e filosófica Alemanha a apoiar um louco como Hitler? A Alemanha dos reformadores e das grandes discussões teológicas!
Mesmo com a criação do estado de Israel, o anti-semitismo não se deu por vencido. Cemitérios judeus são violados. Sinagogas e escolas hebraicas sofrem repetidos atentados. Livros e panfletos são publicados com o objetivo de difamar a prole de Jacó. Enfim, basta acompanhar o noticiário para certificar-se de que o anti-semitismo é um monstro de milhares de fôlegos.
Os que servimos a Cristo, porém, temos de nos guardar deste vírus. Em primeiro lugar, porque o próprio Senhor JESUS nasceu sob a proteção da nação judaica e, em todas as coisas, foi um típico judeu. Tanto é que esta tão significativa inscrição encimou-lhe a cruz: “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus.” Também não podemos nos esquecer dos muitos bens que temos recebido de Israel. Desta perseguida nação, veio-nos a Bíblia e a própria esperança de vida eterna, como disse o mesmo Senhor (João 4.22).
O verdadeiro cristão jamais será um anti-semita! Sua dívida para com a humanidade israelita é demasiado grande. Uma dívida, aliás, contraída com a própria eternidade. E, se existe algum crente que ainda teima em ser anti-semita, recomendo a leitura dos capítulos 9 a 11 da Carta aos Romanos.
Que o Senhor JESUS nos guarde deste inominável preconceito!
Por: Claudionor Corrêa de Andrade
(Fonte: MP 1244/Outubro 1990)
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