A VERDADE:
"Os que nas palavras vêem apenas iluminuras, poderão perguntar-nos que males um simples vocábulo pode causar à família hebraica? À primeira vista, nenhum. No entanto, a história aí está para provar-nos serem as palavras detentoras de um poder inimaginável".
A VERDADE EXPLICADA:
Segundo Fritz Feigl, o objetivo primordial de um dicionário é refletir o significado linguístico e intelectual de uma palavra. Arquivando-a e desnudando-lhe a etimologia, explica o erudito, o dicionário consegue uma façanha singular: fotografar-lhe o passado e o presente. Mas a sua função não termina aí. Desenha-lhe ainda o destino e até determina-lhe o caráter. Para comprovarmos a realidade destas observações de Feigl, basta atermo-nos aos significados com que nossos lexicógrafos trajaram o pobre e escorraçado judeu. Como estamos comemorando mais uma vez o nascimento do menino JESUS, eis uma boa oportunidade para repensarmos nossas atitudes para com o povo do qual veio o Salvador do mundo. Será que podemos comemorar-Lhe o Natal com uma alma tão preconceituosa? Que não pode admitir sequer que Ele veio ao mundo como um garoto judeu? Mas, que maldição pode haver nesta palavra?
Trata-se aparentemente de um substantivo gentílico usado para cognominar um milenário grupo étnico. Vestiram-no, porém, de um preconceito tão virulento que passou a ter estes sinônimos: usurário, traidor, matador de Cristo. O vocábulo judeu tornou-se, na língua lusíada, o mais perfeito antônimo do ser humano. Se um dia nossos estudantes tiverem que descrever o anti-homem, não terão trabalho algum. Bastar-lhes à sanfonar o dicionário! Lá estará o humilhado judeu no mais ilógico dos guetos.
Não poderiam nossos dicionaristas limitar-se à uma definição mais técnica? Isenta desse ranço anti-semita? Que levasse em conta a dignidade do ser humano? Por que não conceituar o judeu como um indivíduo originário da nação israelita? Não poderiam ainda nossos linguistas adotar o mesmo bom senso de Clementino Fraga? Diante da extravagância de nossos dicionários, afirmou: “Judeu é simplesmente o israelita, o povo de Israel. Nada mais do que isso.” Mas alguém poderá arguir-me ser obrigação do lexicógrafo registrar todos os significados que comportam as palavras. Se aceitarmos esta argumentação, ver-nos-emos forçados a assimilar todas as pechas que nos irrogam os adversários de Cristo. Com respeito, porém, ao vocábulo cristão, eis o que dizem os mesmos dicionários: “Seguidor de Cristo, fiel, criatura humana.”
Os que nas palavras veem apenas iluminuras, poderão perguntar-nos que males um simples vocábulo pode causar à família hebraíca? À primeira vista, nenhum. No entanto, a história aí está para provar-nos serem as palavras detentoras de um poder inimaginável. Acaso não brotou a Revolução Francesa da enciclopédia elaborada por Diderot? Germinada, entretanto, frutificou o mundo todo com ideais libertários. Tratava-se, aparentemente, de uma obra técnica. Sob o manto da didática, porém, escondia-se o ardor de um anseio que alteraria profundamente o curso da história.
Ninguém melhor do que Tiago compreendeu o poder das palavras. Em sua epístola universal, escreve: “Vede também os navios que, embora tão grandes e levados por impetuosos ventos, com um pequenino leme se voltam para onde quer o impulso do timoneiro. Assim também a língua é um pequeno membro, e se gaba de grandes coisas. Vede quão grande bosque um tão pequeno fogo incendeia. A língua também é um fogo; sim, a língua, qual mundo de iniquidade, colocada entre os nossos membros, contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, sendo por sua vez inflamada pelo inferno. Pois toda espécie de feras, como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se doma, e tem sido domada pelo gênero humano; mas a língua, nenhum homem a pode domar. É um mal irrefreável; está cheia de peçonha mortal. Com ela bendizemos ao Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à imagem e semelhança de Deus. Da mesma boca procede bênção e maldição...” (Tg 3.4-9)
Como negar o poder das palavras? Goethe, com o seu inimitável estilo, publicou um livro que causaria muitos males à sua geração. Intitulado “Os sofrimentos do jovem Werther”, o romance deste genial escritor alemão induziu muitos jovens ao suicídio. Parecia uma simples história de amor frustrado. Sob aquela roupagem, todavia, adormecia o fogo de paixões que jamais deveriam ser despertadas. Como se vê, as palavras não podem ser encaradas como inofensivas. São benéficas ou malévolas; inofensivas, nunca. Que os judeus o digam!
Caluniados e injuriados tantas vezes, sabem muito bem que a sintaxe pode ser mais venenosa do que os escorpiões. Haja vista o difamatório “Protocolo dos Sábios de Sião” produzido pela Rússia dos Czares. Ao ler este maldito simulacro, o leitor incauto será levado a crer que a especialidade dos israelitas é tramar contra a civilização. E, o que diremos de Mein Kampf escrito por Hitler? Embriagada por este livro, a culta e inquiridora Alemanha chancelou um dos mais bárbaros crimes da história. Recentemente foi publicado em nosso país uma obra bastante irônica e que nos mostra o quanto as palavras atentam contra a verdade. Para o seu autor, o holocausto judeu, durante a Segunda Guerra, não passou de um mito muito bem urdido pelos sionistas. Tão ousado foi este escritor, que não teve qualquer pejo em afirmar que todos os documentos sobre a aniquilação judaica na Europa não passam de uma farsa. Infelizmente, não são poucas as pessoas predispostas a acreditar nestas asneiras. Mas, graças a Deus, porque a História nunca nos deixa sem um firme testemunho. Ainda que voem séculos e desapareçam os milênios, a verdade triunfará sempre.
Mas, por que foi o vocábulo judeu travestido com aqueles significados? Em primeiro lugar, em consequência da ignorância dos gentios. Acredito que se a ignorância fosse vencida, os crimes todos seriam debelados. Desgraçadamente, porém, o ser humano parece deliciar-se com o perfume barato desta dama que não tem nacionalidade, nem conhece fronteiras. Sabedores disso, os tiranos não mostram qualquer escrúpulo em seduzi-la para perpetuar-se no poder. Quanto mais bronco o povo, mais fácil será induzi-lo aos mais estúpidos sacrifícios. Eis porque os ditadores investem tanto em armas e tão pouco em educação. São esses mesmos ditadores que jogam seus povos contra as minorias, culpando-as de todos os males. Justificam, dessa forma, seus malogros e insucessos administrativos. Se a peste negra infelicita a Europa, o culpado é o judeu. Se a Rússia dos Romanoves perde a guerra, o culpado é o judeu. Se a gloriosa França fracassa e seus planos vão parar numa lata de lixo da embaixada alemã, o culpado também é o judeu. Se a católica Espanha capenga ante os dogmas, o culpado ainda é o judeu. Se a Inglaterra não consegue resolver seus problemas, o bode expiatório escolhido continua a ser o judeu. Se a austera Alemanha é envergonhada no primeiro conflito mundial, o culpado logo aparece: é o judeu. Se os brancos americanos passam por dificuldades, logo surge a Klu Klux Klan para acusar o pobre judeu. E, se o Brasil sente que pode usufruir mais petrodólares, coloca toda a sua diplomacia a acentuar a eterna culpa judaica.
Por este motivo, os sinônimos do vocábulo judeu multiplicam-se sempre. Para os russos é derrota; para os franceses, traição; para os espanhóis, heresia; para os ingleses, incapacidade; para os alemães, fracasso e vergonha; para os norte-americanos racistas, impureza; para os brasileiros pragmáticos, prejuízo. Enfim, para a humanidade toda o judeu não passa de uma peste negra. Por esse motivo, este vocábulo enverga sempre novos sinônimos. Certa vez disse Albert Einstein que se a sua teoria da relatividade fosse um sucesso, os alemães diriam: “Eis um digno representante da nação germânica.” No entanto, se ele fracassasse, os mesmos alemães diriam: “Einstein não passa de mais um desgraçado judeu.”
Como seria bom se os gentios conhecêssemos um pouco mais a História. Ficaríamos maravilhados diante da dívida que contraímos para com a nação judaica. Você sabia, por exemplo, que a vacina Sabin foi descoberta por um cientista judeu? No entanto, em consequência do anti-semitismo germânico por pouco as nossas crianças ficariam à mercê da poliomielite. Como todo menino judeu, Albert Sabin muito sofria com o preconceito teotônico. Certo dia, quando voltava da escola, um garoto alemão ofendeu-o, chamando-o de infiel. Em seguida, atirou-lhe uma pedra que, por pouco, não lhe atinge o olho esquerdo. Se isto acontecesse, a humanidade perderia um de seus maiores benfeitores. Relata o cientista: “Se aquela pedra me atingisse o olho esquerdo, eu ficaria completamente cego, porque já nasci cego do olho direito.”
Além de Sabin, poderíamos falar de outros judeus ilustres que muito fizeram pela humanidade. Quando poderemos resgatar nossa dívida para com Moisés e Isaias, Esdras e Paulo? Sem as Sagradas Escrituras, a civilização jamais alcançaria qualquer brilho. Ainda que ateus afirmem ser o Santo Livro prescindível, a própria literatura ficaria empobrecida sem ele. Haja vista as citações que Shakespeare faz da Bíblia. Basta ler Machado de Assis para sentir o quanto a Palavra de Deus influenciou o maior estilista brasileiro. E, com respeito a JESUS? O que diremos acerca do mais ilustre dos judeus?
Sem Ele, estaríamos mergulhados numa barbárie ainda maior. Foi Ele quem nos deu vida e nos mostrou o caminho da eternidade. Seus princípios orientam-nos e dão-nos tranquilidade. Como Filho de Deus, assegurou-nos a libertação dos pecados. Mas como homem era um verdadeiro israelita! Foi nessa condição que os gentios O crucificaram. Encimando Sua cruz, Pilatos ordenou fosse colocada uma inscrição: “JESUS Nazareno Rei dos Judeus.” Ora, se JESUS é judeu Ele também torna-Se merecedor de todos os adjetivos que os gentios suscitam do vocábulo judeu. Creio, portanto, que nenhum cristão verdadeiro gostaria de ver o Seu Amado Senhor receber as injúrias que, em nossos dicionários, ilham o injustiçado judeu. Sim, ilham. Porque o vocábulo judeu é um pedaço de história cercado de preconceitos por todos os lados.
Portanto, desarmemos nossos dicionários dos preconceitos. Vamos dar-lhes mais significados de justiça e semânticas de paz. Que eles se tornem os reais depositários de nossas conquistas culturais e não armazéns de velhos ódios e amarelecidas disputas. Roquemos ao Senhor para que o almejo de Henrique Pongetti seja um vaticínio: “Um dia,os fazedores de dicionários do mundo inteiro se reunirão num congresso, prólogo do desarmamento universal, e extirparão para sempre as palavras envenenadoras.” Mas, este vaticínio, ocorrerá de uma forma bem mais ampla. De acordo com o que anteviu Isaías, num futuro não muito remoto, os homens transformarão suas armas em instrumentos agrícolas e nunca mais se adestrarão à guerra. Creio mesmo que o profeta terá dito que, no reino messiânico, os homens deixarão de ter uma língua ferina e procurarão resolver as suas pendências no campo da diplomacia. Acaso as guerras não começam com palavras e não terminam sempre com a espada? Como discípulos de Cristo, estejamos sempre prontos a fazer de nossas palavras uma mensagem de amor perene. E que os cristãos saibamos tratar nossos irmãos judeus com mais dignidade! Nessa atmosfera, mudemos a nossa atitude para com o povo judeu. Afinal de contas , como disse o próprio Senhor JESUS, “...a salvação vem dos judeus.”
Por: Claudionor C. de Andrade
(Fonte: MP. 1246/Dez.1990)
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