Onde, Senhor, a mensagem de fraternidade que ecoou na Tua noite: "Glória a Deus nas maiores alturas e paz na terra aos homens a quem ele quer bem?" Onde está a mensagem?
A VERDADE EXPLICADA:
Senhor,
O que fizeram com o Teu Natal? Com a beleza e simplicidade do Teu Natal, o que fizeram? Onde a candura do Teu Natal? Transformaram o Teu Natal, Senhor, em uma festa de vazios. Homens e mulheres vazios! Cartões e cumprimentos vazios. Brinquedos vazios de infância. Presentes vazios de afetos. Até a alegria está vazia de felicidade. As vitrines, vazias de justiça e significado. De sentimentos, vazias as frases. Há frêmitos, ânsias, correrias. Vazios há também. Pessoas vazias e cheias de si mesmas. Ruas cheias de sonhos vazios e coloridas de pesadelos. Sonhos e pesadelos que se misturam no vazio dos gritos e vivas e tilintar de taças e abraços frouxos.
Onde está, Senhor, a estrela que brilhou no Teu Natal? Olho para o céu e, no vazio da imensidão, só vejo aviões de guerra vomitando mortes, despejando destruição. Para o céu, eu olho; diviso satélites que, à semelhança de Caim, rastreiam a vida de Abel. Onde está, JESUS, aquela brilhante estrela?
A Tua noite, Senhor, onde está? Em que calendário ficou a Tua noite? Nos milênios de nossas vanidades? Nos séculos de nosso esquecimento? Tua noite tem brilho de sol, fulgor de astros, esplendor de estrelas. Mas, sem Ti, nossos mais claros dias são trevas. Na Tua noite, JESUS, o vazio do infinito foi preenchido por etérea música. O que são, porém nossas músicas sem a melodia da Tua presença? Sinfonias de desconcertos, são! Onde está, Senhor, a Tua noite? A noite em que choraste para que sorríssemos, onde está? Que a Tua noite venha iluminar nossos dias de eclipses!
Por que não ouço, Senhor, o cântico dos anjos que alegraram a Tua noite? Ouço o ribombar dos canhões e o matraquear das metralhadoras explodirem em marchas de ódio em pautas de sangue. Por que este concerto bizarro? Fuzis e baionetas, por que? Por que a espada, se uma magérrima batuta pode reger o Universo? Em que vazio ecoa o cântico dos anjos? Ouço o gemido dos anjos da Etiópia e Moçambique! A cada minuto, entoam o poslúdio da fome e do desamparo. Anjos sem harpas e sem trombetas. Nem música tem esses anjos. De suas ressequidas gargantas, morrem os mais belos prelúdios de vida. Anjos pretinhos que nos céus formam o mais alvo coral da inocência.
Onde o eco das vozes angelicais? Ouço, Senhor, ecos de pequeninos anjos que sangram no ventre de mulheres frias e inconsequentes. Vozes interrompidas; entrecortadas vozes. Choros que poderiam ser cânticos; lágrimas que poderiam ser risos. Anjos informes expulsos de seus santuários. Abortos lançados no vazio de um mundo cheio de crueldades.
Tua manjedoura, Senhor, onde está? A opulência a esmaga no ouro das catedrais e na suntuosidade de templos cheios de adoradores vazios. Por que Tua manjedoura ficou tão longe e tão perto? Longe dos que se misturam aos espectros e fantasmas de palácios e castelos engordurados de luxo. Perto está Tua manjedoura. Nas favelas, perto. Nos mocambos e guetos, perto. Nos casebres e choupanas, perto. Onde está a Tua manjedoura, JESUS? Como os homens podem falar em Teu bercinho de palha, sentados em tronos de ouro? Como podem falar em Tua humildade sem o manto da Tua humilhação? Como podem falar na singeleza de Teu Natal, vestidos de púrpura?
Onde está, Senhor, os pastores que, no campo, receberam as boas-novas do Teu nascimento? Onde o campo, JESUS? O campo está semeado de mortes e pestes e lamentos. Está semeado o campo de deformidades que, da Tua criação, tiraram todo o belo. Não mais campo de pastoreio e plantio. Campo de batalha é! Homens que poderiam ser pastores, cruzam espadas. Poderiam ser agricultores, mas transformam suas enxadas e relhas em máquinas de guerra.
Os reis magos que Te visitaram, Senhor, onde estão? Hoje, os príncipes deixaram o Oriente e o Ocidente para falar de uma paz vigiada, periférica, intranquila. Falam de paz com gosto de guerra, com sabor de batalha. Eles são príncipes, mas, no Teu reino, Senhor, nem plebeus seriam. São, também, magos. De suas cartolas arrancam lágrimas de esposas e mães. Com suas varinhas, transformam metais em canhões, agricultores em soldados, irmãos em inimigos. Através de lacônicas declarações, escrevem, no vazio da história, o drama de Abel.
O ouro, o incenso e a mirra do Teu Natal, onde estão? De seus tesouros, hoje, os reis só liberam radioatividade. Eles abrem seus baús e os inocentes morrem de câncer e, na terra, o trigo desbota. Malditos tesouros. Riquezas sem venturas. Heranças sem testamentos, nem herdeiros. Onde está o ouro? Em que vazio brilha? A mirra, onde está? E, o incenso? Para que vazio sobe? Senhor, falta preciosidade em nossos natais; perfume, em nossas festas; cheiro suave, em nossas congratulações.
Onde, Senhor, a mensagem de fraternidade que ecoou na Tua noite: "Glória a Deus nas maiores alturas e paz na terra aos homens a quem ele quer bem...?" Onde está a mensagem? A toda hora, declarações de guerra são expedidas e decretos oprimindo os pobres, baixados. Onde as alturas, Senhor, se no espaço, as nações já foram brigar?
Simeão e Ana, onde estão, JESUS? Esses amáveis velhinhos alegraram-se ao Te embalar. Cantaram por esse motivo! Onde estão nossos anciãos? Amontoam-se nos asilos; relembram o passado em um presente de incertezas. Não mais sorriem. A ternura não conhecem mais. Por que, em suas rugas, não mais se espelham em jovens? Por que a mocidade não mais reflete as cãs de nossos Simeões e a bondade de nossas Anas?
Onde está, Senhor, a simplicidade do Teu Natal? No Teu dia, tudo tão simples; hoje, o mesmo luxo. Nossos luxos, porém não tem a beleza de Tua simplicidade, os enfeites de Tua simplicidade, de Tua simplicidade, os lauréis. Oh! doce simplicidade! De amor e graça, adornou-nos Tua simplicidade! De um maravilhoso porvir, adornou Tua simplicidade o nosso presente. Tua simplicidade adornou-nos a alma com todas as bênçãos celestiais. JESUS, que na Tua simplicidade aprendamos a inutilidade de nossos luxos.
JESUS, apesar dos mais negros pesares, não nasceste em vão. Há vazios; imensos vazios. O Teu amor, porém permeia-nos completamente o ser. São milhões de servos Teus, em todo o mundo, que vivem continuamente o Teu Natal. Eles o vivem da forma mais bela e prazenteira possível. Não obstante o crônico vazio do mundo; vivem cheios do espírito do Teu Natal.
Não nasceste em vão, Senhor!
Claudionor C.de Andrade
MP 1208/Dez.1987