quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

SIFRÁ E PUÁ

A VERDADE:
"Há algo de sinistro e ao mesmo tempo grandioso nas opções agora abertas às mulheres..."






























A VERDADE EXPLICADA:

Sifrá e Puá tinham licença de matar. Cerca de 1500 a.C., o "Faraó da Opressão" chamou as duas parteiras e deu-lhes poderes absolutos: "Quando ajudardes no parto das hebreias... se for filho, matai-o..." (Ex 1.16)

Antes da forca, da guilhotina, da cadeira elétrica, das injeções letais e das rajadas de metralhadora, as duas mulheres tinham já autoridade de matar em nome da lei. Neste caso tratava-se de algo mais que privilégio de pôr termo à vida de outrem. A consciência vacilante poderia argumentar que matar tornara-se, então, um dever legitimado pela autoridade máxima do país. Se cumprissem à risca a sua missão, Sifrá e Puá poderiam até ser condecoradas. Pessoas tem recebido medalhas por orelhas, cabeças -- e sabe-se lá que outras partes anatômicas! -- cortadas às "forças inimigas". Em tempos de crise espiritual verifica-se sempre uma erosão dramática de valores que barateia a vida humana. Usam-se a propósito termos pomposos como "honra", "segurança", "legítima defesa", "interesse nacional", etc., para justificar a supressão de vidas, mesmo que na leva sofram crianças indefesas.

Como no Egito dos dias de Sifrá e Puá, a matança de meninos nem sempre é gerada pela guerra. Antes, por conveniências sociais ou insegurança quanto ao futuro, opinam entendidos. Nos nossos dias tais argumentos transbordam dos círculos governamentais à intimidade do lar. Mais e mais países sancionam o aborto como opção válida ao controle da natalidade, enquanto os lares vão-se habituando à rotina de eliminar "tecido fetal". Já se pode praticar a matança de crianças: é lei decretada por faraós do século vinte e um.

Munidas da sua licença de matar, Sifrá e Puá saíram à rua. Há algo de sinistro e ao mesmo tempo grandioso nas opções agora abertas às mulheres. Poderiam organizar-se numa gestapo privada e aterrorizar os bairros judeus, séculos antes do nazismo. Por outro lado, poderiam elevar-se acima do padrão oficial e decidir obedecer a ordens emanadas de Trono mais alto que o do faraó.

Este momento não é exclusivo às duas parteiras nem ao seu tempo. Ocorre sempre que temos de fazer escolhas em que a lei da consciência alertada pelo Espírito Santo entra em choque com a lei dos costumes e de poderes humanos. Há riscos gravíssimos em ambas as opções. Se escutarmos a Deus, poderemos expor o pescoço aos dedos estranguladores das forças resistidas; se nos submetermos a leis imorais caímos sob a ira divina. Posta nestes termos, a escolha parecerá óbvia, mas é sempre difícil, agravada por disparidades na aplicação de sanções: os homens intimidam pela presença física imediata, mas Deus é invisível e por vezes parece desligado ou esquecido da vida eterna. Além disso, os homens quase sempre optam pelo julgamento sumário enquanto Deus deixa correr mais tempo antes do Seu dia de juízo.

O nervosismo humano quanto ao crescimento populacional brota da incerteza. Pergunta-se hoje se teremos pão para sustentar, recursos para educar, trabalho para ocupar e espaço para abrigar uma população "explosiva". Estes cuidados são válidos e merecem ponderação e planejamento adequado, a nível do lar e nacional. Mas parece que vamos atuando mais sobre consequências do que sobre as causas que as originaram.

A pergunta que Sifrá e Puá tiveram de responder foi, sem dúvida, deste teor: "Valerá a pena salvar a pele, se o custo dessa proeza exigir o estrangulamento da consciência?" A Bíblia imortalizou a decisão heroica destas mulheres: "As parteiras, porém temeram a Deus, e não fizeram como o rei do Egito lhes dissera, antes conservaram os meninos com vida..." (Ex 1.17)

O faraó que deu a ordem genocida acha-se sepultado, como seus predecessores, sob milhares de toneladas de pedra arquitetada em pirâmide. Um desses túmulos media 146,60 metros de altura por 230,35 metros de comprimento. Maravilham-se os cientistas modernos de como foi então possível o transporte e a disposição de tamanho peso. A despeito, porém das estruturas colossais de Quéops e do Vale dos Reis, em Tebas, fica-nos uma pergunta inquietante: quão mais esmagador teria sido o peso amontoado na consciência de Sifrá e Puá, se tivessem executado a ordem de matar crianças?


(Jorge de Barros/MCruz nº 73/Jul.1986)





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