quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

MATUSALÉM, O COLECIONADOR DIFERENTE.

A VERDADE:
"...e foram todos os dias de Matusalém novecentos e sessenta e nove anos, e morreu..." (Gn 5.27)

A VERDADE EXPLICADA:

Na concorrida relação dos descendentes de nossos primeiros pais, encontrada no quinto capítulo do Gênesis, há um nome que nos chama a atenção. É Matusalém, filho de Enoque.

Na preocupação da Bíblia de, biografando seus personagens, colocar em destaque a projeção de seus dotes pessoais e a influência que, através desses mesmos dotes, conseguiram exercer, pouco fala, a Bíblia, a respeito de Matusalém. O relato bíblico é singularmente lacônico. Quase "telegráfico". O mais resumido possível. Dir-se-ia que, àquela vida, faltou alguma coisa que lhe pudesse dar sentido de vibração e perenidade, que a Bíblia pudesse enaltecer.

De Matusalém o Gênesis diz, apenas, que viveu 969 anos, e morreu... Morreu depois de viver tantos anos. Morreu cansado de viver. E Matusalém passou a ser símbolo e legenda de vida longa. Matusalém passa a ser símbolo de longevidade. 

Nove séculos numa vida. Quase 10 séculos. Quase mil anos, naquela vida dilatadíssima, onde não se encontra nada mais. Anos, décadas, centenários. Somente isso. Mais nenhuma lição a ser tirada daquela existência. Nenhum exemplo; nada de inspiração. Vida sem profundidade e sem verticalidade. Vida monotonamente horizontalizada. Sem essência. Sem a preocupação maior que a de amontoar, de multiplicar dias e mais dias.

Pobre Matusalém! Enquanto Enoque imortalizava-se porque é capaz de andar com Deus, e, na verticalidade daquele relacionamento, traça dimensões que o fazem desaparecer no tempo para lançá-lo no seio da eternidade. Matusalém, o soturno avô de Noé, é o desafiador do calendário. 

E quando o colecionador de anos inigualável chegou aos 969 anos, morreu. Parece-me vê-lo alquebrado, vergado pelos séculos, arrastando tristezas recontadas, repetindo histórias cheias de nostalgia, ruínas inexpressivas onde só havia passado. E como é triste o passado de sombras, o passado que não tem nada, que não diz nada!

A vida que, na conceituação de Tiago, é efêmera como a neblina, como a fumaça, como o vapor, a vida que, para tantos, é tão breve, dolorosamente breve, não pode ser avaliada por sua extensão, por sua horizontalidade. Vida é profundidade, é verticalidade. Porque aos 33 anos, JESUS, na oração sublime que João registrou, disse: "...eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste a fazer..." Missão cumprida, em plena juventude. Tarefa executada, no testemunho gravado no Calvário: "Tudo está consumado...!"

969 anos. Matusalém. E morreu. E partiu, sem deixar mais nada, que não o símbolo de séculos colecionados, cansativamente. 

Pobre Matusalém!


(Ivan Espíndola de Ávila/Jan.1984)


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